BURSITE NO OMBRO
O
termo conhecido popularmente como BURSITE DO OMBRO, desde o final da década de
90, não é mais usado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo,
visto que até então, acreditava-se que a inflamação da Bursa, que é um tecido
encontrado em várias articulações como joelho, quadril, cotovelo, etc, era a
causa da doença cujo nome técnico atual é Síndrome do Impacto Subacromial, que
representa a principal cauda de dor no ombro de origem não traumática que leva
os pacientes a procurarem um médico Ortopedista no consultório.
Hoje
sabemos que a inflamação da Bursa é consequência e constitui apenas mais uma
das várias alterações existentes nesta doença, que pode vir acompanhada também
por:
- alterações ósseas, sobretudo do acrômio, que é um osso que forma o chamado teto da principal articulação do ombro;
- artrose da articulação Acrômio-Clavicular;
- e finalmente, inflamação e nos casos mais avançados, ruptura dos tendões que compõe o manguito rotador, cujas principais funções são dar movimento e estabilidade para o ombro.
Assim como
inúmeras doenças músculo-esqueléticas, a síndrome do impacto subacromial é causada pela falta de exercícios específicos, bem como pela execução inadequada
destes.
Os sintomas mais comuns são dor, sobretudo
noturna e ao se realizar elevação do braço (acima de 70 graus), limitação
funcional progressiva, hipotrofia muscular e nos casos mais avançados,
diminuição e até perda da força e/ou movimentos.
O diagnóstico é dado pelo exame físico,
com a realização de testes específicos. A avaliação radiográfica é importante
para o estudo da anatomia óssea local, bem como pela procura de sinais diretos
e indiretos da existência desta doença. Na suspeita de lesão dos tendões, o
exame de escolha é a ressonância nuclear magnética, que além de determinar a
presença ou não da lesão, revela sua exata localizacão, tamanho, tipo e se os
músculos que dão origem aos tendões estudados apresentam sinais de degeneração
gordurosa, cuja presença aumenta sobremaneira a gravidade do caso, uma vez que
trata-se de condição irreversível.
O tratamento quando iniciado precocemente
apresenta elevados índices de sucesso, consistindo basicamente em medicação,
orientações e fisioterapia. À medida que a doença avança, a chance de sucesso
do tratamento não cirúrgico diminui e a necessidade de intervenção cirúrgica
aumenta, sobretudo na vigência de lesões completas de 01 ou mais tendões,
situações que entre outras coisas é realizado o reparo destas estruturas.
Por tratar-se
de doença evolutiva, os pacientes que não tratam a síndrome do impacto
subacromial passam por todas as fases da doença até a rotura dos tendões, que
quando não tratados podem culminar com uma dasmais graves patologias do ombro,
qual seja a artropatia do manguito rotador,
cujo tratamento atual consiste em realizar artroplastia total reversa do ombro.
A prevenção
desta doença é obtida através da realização de exercícios de fortalecimento
muscular do ombro, em especial dos chamados rotadores, bem como por meio de alongamentos
dos tecidos existentes na referida articulação e na vigência de sintomas
iniciais, a procura imediata para o tratamento da mesma.
Mas naturalmente apesar da síndrome do impacto
subacromial constituir a principal causa
de dor no ombro de origem não traumática, existem outras patologias que também
cursam com dor nesta articulação, como se segue:
a) Capsulite
adesiva, também conhecida como ombro
congelado, cuja principal característa
clínica é , além da dor, cursar com diminuição dos movimentos passivos,
sendo o tratamento não cirúrgico considerado como de escolha na grande maioria
dos casos.
b) Tendinite
calcárea que consiste na deposição de
cálcio dentro de 01 ou mais tendões do manguito rotador. Trata-se de doença
auto-limitada, ou seja, de resolução espontânea, sendo considerada uma das
principais causas de dor não traumática que leva o paciente a procurar
atendimento de urgência, tudo em função da dor intensa encontrada durante a
fase de reabsorção espontânea do cálcio depositado no(s) tendão (ões).
c) Artrose do
ombro, que diferentemente de outras
articulações como joelho e ombro, tem sua ocorrência muito mais escassa, embora
não menos incapacitante. O tratamento desta doença em estágios mais avançados
consiste na realização de artroplastia da referida articulação.
d) Instabilidade configura patologia mais comum entre os jovens que
podem culminar com o completo deslocamento da articulação, tecnicamente chamada
de luxação. O seu tratamento dependendo da origem (traumática ou atraumática),
vai desde fisioterapia e fortalecimento muscular a reparo cirúrgico da lesão.
e) Lesões
labrais, cuja identificação veio
concomitantemente com o advento da artroscopia do ombro (técnica cirúrgica
minimamente invasiva que utiliza microcâmera e transmite para 01 monitor as
imagens obtidas dentro da articulação com aumento em várias vezes de seu
tamanho real) e cujo tratamento, em boa parte dos casos, dependendo da
sintomatologia e nível de atividade física do paciente é cirúrgico.
Jean Klay Santos Machado
Médico Ortopedista
Coordenador de serviço de residência médica em ortopedia e traumatologia
HPD / UEPA
Coordenador do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Adventista
de Belém
Membro da Sociedade Brasileira
de Cirurgia do Ombro e Cotovelo